quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Sarau Musical, com Edivan Freitas e ANA




Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

                   (João Cabral de Melo Neto, O artista inconfessável)




29 de abril, última quarta do mês, dia de Sarau. Um programa muito especial! Um bom papo, lindas canções e poemas ao vivo, com Edivan Freitas e ANA! No quadro Quem conta um ponto aumenta um conto, nosso diretor de áudio e também apresentador do Vice Verso, Juliano Rabujah apresentou sua exposição da obra Poemas punks, do poeta Marcos de Castro. E no quadro 5 minutos, uma reprise do comentário de Márcio Vaccari, falando sobre o trabalho visual do grupo Hipgnosis.



Edivan Freitas é cantor, compositor, violonista, natural de Cariacica. Graduado em Letras e Música pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e em Música Popular pela Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames). Edivan concilia a carreira de cantor, compositor e violonista com a de professor de literatura brasileira e musicalização infantil. Seu CD de música autoral se chama Andante, lançado em 2011, além disso, possui composições gravadas por diversos artistas.



ANA. Ex-vocalista da Aurora, uma das bandas vencedoras da 5º edição do Festival de bandas independentes Prato da Casa, iniciou recentemente sua carreira solo lançando composições próprias nas redes sociais em voz e violão. Atualmente alcança mais de 36 mil fãs no Facebook e vários vídeos de sucesso no Youtube.  Seu primeiro EP está em fase de produção e será lançado até o fim deste ano, o disco contará com canções já conhecidas pelos fãs da moça e algumas inéditas.



Canções e poemas
Tua mão (Composição e interpretação: Edivan Freitas)
Escopo (Composição e interpretação: ANA)
Dança da fala (Composição e interpretação: Edivan Freitas)
Perdas (Autoria e performance: ANA)
Sorte (Composição e interpretação: ANA)
Poemas aos homens do nosso tempo - X (Autora: Hilda Hilst; performance: Edivan Freitas)
Do riso (Composição e interpretação: Edivan Freitas, álbum: Andante)
Basta (Composição e interpretação: ANA)
O artista inconfessável (Autor: João Cabral de Melo Neto; performance: Edivan Freitas, obra: Museu de tudo)
Gestos e matizes (interpretação: Edivan Freitas)
Amor intergalático (Composição e interpretação: ANA)
Canteiros (Composição e interpretação: Fagner) Sugestão de ANA.
O quereres (Composição e interpretação: Caetano Veloso) Sugestão de Edivan Freitas.
Metade (Composição e interpretação: Adriana Calcanhotto) Sugestão de Edivan Freitas.
A mão do tempo (Composição:
José Fortuna/Tião Carreiro; interpretação: Tião Carreiro e Pardinho) Sugestão de ANA.

Descolonização



Pelos milhares que ontem foram e amanhã serão
mortos pelo grão-negócio de vocês;
Pelos milhares dessas vítimas de câncer,
De fome e sede, e fogo e bala, e de AVCs;
Saibam vocês, que ganham “cum” negócio desse
Muitos milhões, enquanto perdem sua alma,
Que a mim não faria falta se vocês morressem;
Saibam que não me causaria nenhum trauma.
                                     
                                             (Reis do agronegócio, Chico César)




 Fernando Marques, Juliano Rabujah, Aline Maria e Karina Caetano.


 
O  mês de Abril nos convida a pensar a descolonização a partir de algumas datas  comemorativas e (des)comemorativas que marcam, no Brasil,  a história da  colonização e da resistência dos nossos povos.  Dia   17, dia Internacional da Luta Campesina, em memória ao  massacre de  Eldorado dos Carajás, onde a polícia militar  matou mais de 20 sem terras  e deixou tantos outros desaparecidos, especialmente  mulheres e crianças desse assentamento. 19 de abril, dia do Índio, os donos da terra submetidos a todo tipo de violência contra seu povo e sua cultura.  21, dia da Inconfidência Mineira, da triste memória do Brasil  colônia, subjugado por Portugal e das tentativas de sair do jugo da  metrópole  extrativista, que entre outras atrocidades implementou a  utilização de mão de obra escrava e desumanizou os negros sequestrados no continente africano. Dia  22 de abril, dia da invasão dos portugueses ao Brasil, momento onde  começa todo esse processo de opressão, construção e resistência  do  nosso povo. Não por acaso dia 22 de abril também é dia da Terra. Para trazer a tona o contexto de luta  e afirmação de nossos povos: indígenas, negros e quilombolas, e  trabalhadores do campo  em suas diversidades, a palavra poética do Vice Verso foi descolonização.     
 
  

Descolonização é o processo por que passa uma nação ou um povo ao se livrar daquele que o explora e desqualifica seus modos de vida. Está diretamente relacionada a conquistas de direitos, a afirmação de uma cultura até então menosprezada e a conservação de suas tradições, em detrimento a cultura secular européia. Descolonizar, portanto é retirar um povo de um processo histórico de exclusão dando-lhe autonomia e fazendo emergir a consciência e o orgulho de sua própria origem.



No quadro 5 minutos, Fernando Marques, nosso comentarista de Teatro nos falou sobre a necessidade de nos afastarmos do colonizador que existe dentro de nós. No quem conta um ponto aumenta um conto Fernando Zorzal comemorou com sua resenha o aniversário de 70 anos da obra A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade.





Canções e poemas
Curumim chama Cunhatã (Composição e interpretação: Jorge Ben Jor)
Erro de português (Autor: Oswald de Andrade; performance: Juliano Rabujah)
Eju orendive (Composição e interpretação: Bro Mc's, reserva Jaguapiru, Dourados – MS)
Visitação (Autor e performance: Paulo Sodré)
Salve as folhas / Descobrimento (Composição: Baianos Gerônimo e Ildásio Tavares; interpretação: Maria Bethania/  Autor: Mario de Andrade; performance: Ferreira Gullar, álbum Brasileirinho, 2003)
Trecho do documentário Escolarizando o Mundo (Autor: Wade Davis; performance: Aline Maria)
Língua (Composição: Caetano Veloso; interpretação: Gal Costa)
 Araruna (Canto dos índios Parakanã do Pará; interpretação: Marlui Miranda)
O ronco da cuíca (Composição: João Bosco e Aldir Blanc; interpretação: Céu)
Navio negreiro (Autor: Castro Alves; performance: Paulo Autran)
Canto das três raças (Composição: Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte; interpretação: Clara Nunes)
Furtar e foder (Autor: Gregório de Matos; performance: Nilda Spencer)
Reis do agronegócio (Autor: Chico César; performance: Aline Maria, Karina Caetano e Juliano Rabujah)
 Canoa, canoa (Composição: Nelson Angelo e Fernando Brant; interpretação: Milton Nascimento, álbum: Clube da esquina, nº 2, 1978)
O colono e o fazendeiro (Autor: Carolina Maria de Jesus; performance:  prof. Pedro de Mello)
Casinha branca (Composição: Joran e Gilson; interpretação: Gilson)
Patrão nosso de cada dia (Composição: João Ricardo; interpretação: Secos e molhados)
Hip!! hip! hoover! (Autor: Oswald de Andrade; por Arnaldo Antunes e outros)
Índigo blue (Composição e interpretação: Gilberto Gil, álbum: Raça humana, 1984)  
Eucalipto (Autor e performance: Waldo Motta)
Não sonho mais (Composição: Chico Buarque; interpretação: Elba Ramalho, álbum  Ave de prata,1979)
Senhor cidadão (Composição e interpretação: Tom Zé)

Ignorãça, especial Manoel de Barros






 No descomeço era o verbo. 

 Só depois é que veio o delírio do verbo. 

 O delírio do verbo estava no começo, lá onde a 

 criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. 

 A criança não sabe que o verbo escutar não funciona

para cor, mas para som. 

Então se a criança muda a função de um verbo, ele

 delira. 

 E pois. 

 Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer 

 nascimentos — 

 O verbo tem que pegar delírio.

                                       (O Livro das Ignorãças – Manoel de Barros)



15 de abril de 2015: a palavra poética foi Ignorãça.  Em um programa belíssimo inspirado em Manoel de Barros mergulhamos em suas obras e fomos agraciados por sua ignorãça. Com o poeta meditamos sobre às origens do homem e a busca pelos deslimites da palavra... 




Para deixar esse programa ainda mais especial, a arte-educadora Lívia Campos ofereceu a oficina Bicho Sensação aos integrantes do Vice Verso.



Um dos mais originais escritores brasileiros, o mato-grossense Manoel de Barros nasceu em dezembro de 1916, em Cuiabá. Viveu longas temporadas da infância numa fazenda do pai, no Pantanal, o que lhe marcou a poesia por toda a vida com versos que “saíram” do chão e da terra.  A adolescência e o início da vida adulta passou no Rio de Janeiro, onde formou-se bacharel em Direito, em 1941. Manoel de Barros pertenceu à Geração de 1945, de onde saíram grandes escritores brasileiros na metade do século XX. Ao longo dos seus 74 anos de carreira Manoel teve 28 obras publicadas e conquistou 13 prêmios literários, inclusive dois prêmios Jabutis. Quem descobriu Manoel de Barros foi o poeta Millor Fernandes, já na década de 1980, mas foi aos 19 anos que ele publicou sua primeira obra,  feita artesanalmente por amigos numa tiragem de 20 exemplares mais um, que ficou com ele.


  

 No quadro Quem conta um ponto aumenta um conto, Jamilla Ghil nos apresentou a obra, O Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles. No 5 minutos David Borges, nosso comentarista de Filosofia e política fala sobre infância e maioridade penal.



Canções e poemas
Um Som Azul (Interpretação: Alexandre Andres; composição: Alexandre Andrés e Bernardo Maranhão; álbum Macaxeira Fields - 2012)
Rã (Interpretação: Caetano Veloso; composição: Caetano Veloso e João Donato)
Áudio de Manuel de Barros: "Descobri Aos 13 Anos”
Poema 1 (Autor: Manoel de Barros,  O Livro das Ignorãças; performance: Jamilla Ghil)
Raízes (Interpretação: Renato Teixeira e Zé Geraldo; composição: Zé Geraldo)
Didática da Invenção (Autor: Manoel de Barros,  O Livro das Ignorãças; performance: Aline Maria, Fernando Zorzal, Jamilla Ghil e Juliano Rabujah)
No Rancho Fundo (Interpretação: Gal Costa e Raphael Rabello; composição: Ary Barroso)
Autoretrato Falado (Autor: Manoel de Barros,  O Livro das Ignorãças; performance: Jamilla Ghil)
Cultura (Composição e interpretação: Arnaldo Antunes)
Acabou Chorare (Interpretação: Novos Baianos; composição: Luis Galvão e Moraes Moreira)
Aforismos de O Livro das Ignorãças (Autor: Manoel de Barros; performance: Aline Maria, Fernando Zorzal, Jamilla Ghil e Juliano Rabujah)
Retrato Do Artista Quando Coisa (Interpretação: Luiz Melodia; autor: Manoel de Barros; composição: Luis Melodia)
Ócio (Autor: Manoel de Barros, no documentário Só 10% é mentira)
Telha Nua (Interpretação: Banda de Pau e Corda; composição: Waltinho e Roberto Andrade)
Aforismos de Manoel por Manoel (Autor: Manoel de Barros, obra Memórias Inventadas - As Infâncias de Manoel de Barros; performance: Danilo D'alma)
Poema IX - Para entrar em estado de árvore (Autor: Manoel de Barros, O Livro das Ignorãças; performance: Aline Maria)
Chuva Na Calçada (Interpretação e composição: Quarteto Falta Um – Aline Maria, Fernando Zorzal e Henrique Paoli)
As bênçãos (Autor: Manoel de Barros; performance: Aline Maria)
Ruínas (Autor: Manoel de Barros; performance: Maria Bethania)
Trem Do Pantanal (Composição: Paulo Simões, Geraldo Roca; interpretação: Almir Sater)
Cunhataiporã (Composição: Geraldo Espíndola; interpretação: Tetê Espíndola)
Alma não tem cor (Composição: André Abujamra; interpretação: Chico Cesar)